Ele era português, tinha 18 anos, vivia em África e decidiu que queria conhecer a Europa antes de ir trabalhar.
Ela tinha 17 anos, era austríaca, guia turística e estava a fazer um interail.
Ele viu-a em Zurique, na estação de comboios. Decidiu ir falar-lhe para lhe dizer que estavam dois homens a olhar para ela já há algum tempo e que lhe pareciam mal intencionados.
Quando cruzaram o olhar, diz ele, perceberam que foi amor à primeira vista.
Ele já não foi conhecer a Europa, ficou com ela na Áustria durante dois meses. Depois entrou para a Força Aérea e o namoro continuou por carta, durante dois anos.
Com o tempo as cartas perderam-se, deixaram de chegar ao destino. Ele achou que a tinha perdido para sempre.
Catorze anos depois, no aeroporto de Lisboa, ele bateu com os olhos nela. Assim, por acaso. Ele não se lembra para onde ia (ela estava a caminho dos Açores), mas diz que sentiu exactamente o mesmo que 14 anos antes. Que eram feitos um para o outro.
Ela tinha casado, ele tinha casado. Ela tinha três filhas, ele tinha três filhas. Ela não era muito feliz, ele também não.
Ele disse-lhe que ainda iam ficar juntos, ela disse-lhe para não brincar com essas coisas.
Separaram-se no aeroporto, não voltaram a ver-se nem a ter nenhum contacto durante 20 anos. Mas não se esqueceram
Até que ele foi à net procurá-la e encontrou-a. Contactou-a no dia de anos.
Ele divorciou-se, ela divorciou-se.
Ele levou-a à estação de comboios de Zurique e repetiu-lhe o pedido de casamento que lhe tinha feito há 40 anos, no mesmo sítio. Desta vez ela aceitou e já levam cinco anos de casamento.
Ouvi esta história ontem, contada pelos protagonistas, e fiquei de boca aberta. Porra, isto só acontece nos filmes. Lembrei-me logo do Antes do Amanhecer e do Antes do Anoitecer. Fiquei absolutamente fã deste casal, mas também fiquei a pensar: a quantas pessoas é que isto acontece? Quantas é que não casam, têm filhos, mas vivem até ao fim dos dias com outra pessoa atravessada no pensamento, sempre a perguntarem-se "e se"? Quantas têm coragem de abrir mão de tudo para ir atrás de uma coisa que ficou no passado? E será que vale a pena? Esta história é perfeita, tem o "happy end" que merece ter, mas quantas mais podem acabar assim? O tempo que passa não dará cabo de tudo? Como é que o sentimento resiste? Como é que se mantém um amor por 10, 20, 30 anos, em segredo, bem amachucadinho lá no fundo do coração? Eu acho, acho mesmo, que há histórias que estão desenhadas para serem assim. Não serão muitas, mas esta é um exemplo. Não sei se acredito muito no destino, mas acho que há coisas que têm de ser. Pode passar muito tempo, a vida pode dar todas as voltas e mais algumas, mas no fim acontecerá o que é suposto. Mesmo que já tenham 87 anos e se desloquem de andarilho. Ou então não, vai cada um para seu lado, fingem que o sentimento não existe e acomodam-se às suas vidinhas de sempre. Acho triste.
In "A Pipoca Mais Doce"
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