Somos
todos uns sentimentais e por isso demoramos no que nos dói. Temos o
choro fácil que dá ou não dá em lágrimas, guardadas as dores cheias de
pormenor enquanto as felicidades ficam por ali, confusas, com algumas
caras, alguns sons, incertas e vagas. Lembramos os sapatos que
calçávamos quando alguém morreu, a hora da notícia, o programa que
passava nesse instante e até as vergonhas que pensamos. Folheemos as
páginas do riso e pouco encontraremos, algumas frases, momentos
caricatos, elementos de uma paisagem. Pouco e mal contado, estávamos
distraídos, demasiado ocupados na felicidade para lhe fazermos o
retrato. Somos tolos e sentimentais, temos arcas cheias de mágoas que
não esquecemos e que abrimos a todo o momento para ver se ainda nos
doem, e doem sempre.
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